Nesta quarta-feira (27), Alessandra Zancopé, diretora de Middle Office da Brasil Energias palestrou em webinar realizado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (COGEN).
Também foi palestrante Ricardo Brunet, gerente de Middle Office da Energisa Comercializadora. A coordenação foi feita por Leonardo Caio Filho, diretor de Tecnologia e Regulação da COGEN, e os debatedores foram Newton Duarte, presidente Executivo da COGEN e Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade da UNICA.
Confira um resumo da discussão.
Alessandra iniciou comentando que a crise epidemiológica atinge todas as economias globais desde o primeiro trimestre de 2020. No Brasil, as medidas econômicas restritivas e de isolamento social se iniciam na 2ª quinzena de março, sendo observada redução brusca da carga em poucos dias.
A redução brusca e a alteração do perfil de consumo refletiram imediatamente em reduções dos preços de energia do Ambiente de Contratação Livre (ACL).
Reflexos nos preços do ACL em função de alteração de expectativa de PLD ocorrem pois, no Brasil, o Preço da Liquidação das Diferenças (PLD), além de ser o preço usado para valorar as operações de compra e venda de energia no Mercado de Curto Prazo (MCP), também é o balizador das expectativas de preço de médio e de longo preço no ACL.
A apuração do PLD acontece semanalmente pela CCEE, com base no Custo Marginal da Operação (CMO), por submercado e por patamar de carga, limitado por preço máximo e mínimo. Seu cálculo é ex-ante, ou seja, utiliza previsões hidroenergéticas para definição da política operativa e da expectativa do custo da energia da semana seguinte, e é feito através dos modelos computacionais Newave ou Decomp. Nesse contexto, o PLD semanal depende diretamente da expectativa de afluência e das condições de armazenamento do sistema.
Em janeiro de 2020, devido às afluências desfavoráveis verificadas ao longo do mês, o preço da energia estava muito elevado (360 R$/MWh) em relação ao esperado para o mês, consequentemente, a expectativa dos preços futuros também se encontrava acima de 200 R$/MWh. A partir de fevereiro, as afluências, principalmente do submercado SE/CO, iniciam a recuperação e é verificada numa redução de até 15% na expectativa do preço de energia para 2020 de um mês para outro.
Com a redução de quase 5.000 MW médios da carga projetada para o período 2020 a 2024 em função dos efeitos da pandemia a partir da 2ª quinzena de março, observa-se uma redução de até 60% na expectativa de preço para 2020 a partir de abril. Segundo Alessandra, mensalmente, as afluências continuarão a exercer papel determinante para a definição dos preços no curto prazo, contudo não devem contribuir para preços muito elevados no 2º semestre/20, mesmo para um período seco desfavorável dada a redução estrutural da carga.
Ao comparar as reduções de expectativa de preço observada entre fevereiro e abril, verifica-se que em abril a alteração da previsão de carga provocou uma alteração de base na expectativa de preço para 2020 e 2021. Esse comportamento é justificado pois alterações estruturais de demanda geram impactos nos preços por períodos mais longos, enquanto apenas afluências muito favoráveis para um determinado período não garante preços baixos no longo prazo.
Quando foi questionada a respeito da retomada da carga pós Covid, Alessandra respondeu que não acredita em uma retomada muito acelerada em 2020 pois ainda existem muitas incertezas em relação à flexibilização das medidas econômicas restritivas. Contudo, ressaltou que é muito difícil precisar o comportamento da carga em situações de retração econômica pois a elasticidade da carga não apresenta comportamento tradicional dado que a demanda também é impactada por fatores não econômicos como temperatura, por exemplo. Complementou ainda que a retração econômica ter sido gerada em razão de crise epidemiológica traz ainda mais complexidade para previsão do comportamento da carga.
A retração do Produto Interno Bruto (PIB) considerada na última projeção de carga do ONS/EPE/CCEE é de -5% em 2020, ante uma expectativa de crescimento de 2,3% antes do Covid-19. Porém, a recessão pode ser ainda maior, segundo Ricardo Brunet da Energisa, podendo chegar a -7% neste ano. Em sua apresentação, Ricardo explicitou dados de diversos institutos de pesquisa que evidenciam alta probabilidade de um longo período de recessão econômica no Brasil. Diante dessas evidências, ele estima que os preços de energia permaneçam próximos a 101 R$/MWh ao longo de 2021 pois não percebe cenário propício para retomada acelerada da demanda.