Por Wellington Bahnemann
São Paulo, 04/09/2020 – O cenário de afluências (volume de água que chega nas usinas) mais fracas no começo de setembro deve levar a uma nova rodada de aumentos no preço de liquidação das diferenças (PLD), referência para os contratos de curto prazo no mercado livre. Projeção da comercializadora Brasil Energias é de que o indicador fique entre R$ 70/MWh e R$ 75/MWh no Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte na próxima semana operativa, que vai de 5 a 11 de setembro. Se confirmado, isso pode significar um aumento de até 12% em relação aos R$ 66,89/MWh verificados atualmente.
De acordo com o presidente da Brasil Energias, Eli Elias, a atuação de um sistema de alta pressão está impedindo que uma frente fria localizada no Sul avance para o restante do País, concentrando as chuvas nas bacias da região, como Jacuí e Uruguai. Neste sentido, a expectativa é de uma recessão nas afluências nas principais bacias de interesse do Sistema Interligado Nacional (SIN), pressionando os preços de curto prazo para cima.
Dados divulgados ontem pela Câmara de Comercialização de Energética Elétrica (CCEE) confirmam que a energia natural afluente (ENA) no SIN nos dois primeiros dias de setembro ficou em 75% da média histórica, sendo 58% na região Sul e 83% no submercado Sudeste/Centro-Oeste. Além disso, vale lembrar que setembro é um mês de transição entre o fim do período seco e o começo do período úmido, o que torna as condições climáticas mais incertas nesta época do ano.
De acordo com Elias, a expectativa é de que o clima mais seco persista ao longo de setembro, com a perspectiva de o PLD encerrar o mês em uma faixa de preços entre R$ 80 e R$ 90/MWh. Para o outubro, o executivo observa uma tendência declinante no indicador, na medida em que o sistema de alta pressão vai perdendo força durante o transcorrer de setembro, trazendo a possibilidade de chuvas por volta do final do mês.
“Por mais que a chuva comece no final do mês, ainda leva um tempo para isso reagir e se transformar em afluências”, disse o executivo. Para o Nordeste, que vem registrando volumes recordes de geração eólica, a previsão da comercializadora é de que os preços fiquem entre R$ 55/MWh e R$ 60/MWh, o que também representaria um aumento de até 15,6% em relação aos R$ 51,88/MWh vigentes neste submercado.
Sobre o Nordeste, Elias comentou que um ponto de atenção diz respeito à política de operação no contexto de La Niña. Os modelos meteorológicos dão como quase certo a ocorrência deste fenômeno climático entre os meses de setembro, outubro e novembro deste ano, ainda que com uma intensidade entre fraca e moderada.
O executivo afirmou que a quantidade de bloqueios atmosféricos acaba diminuindo em momentos de La Niña, facilitando o avanço das frentes frias e, por consequência, das chuvas. Tradicionalmente, esse fenômeno climático eleva as precipitações na região do Médio São Francisco. Caso se confirme, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) poderá flexibilizar as operações hidrelétricas da região diante da possibilidade de um excesso de água nos reservatórios.
“A grande dúvida relacionada ao La Niña diz respeito à localização das chuvas. O risco é subir mais do que o necessário e ir mais para o Norte. Como o La Niña desta vez tende a ser mais fraca, esse risco é menor”, afirmou o executivo.
Fonte: Estadão
04.09.2020